«Grandes portugueses» [o Marquês de Pombal]. Se o Poder me obcecasse, votaria nele.
Os Grandes Portugueses. E não é que, apesar de tudo, o público foi mais avisado do que os organizadores deste concurso? Quatro figuras ligadas aos Descobrimentos (dois mentores -- Infante e D. João II --, um agente -- Vasco da Gama -- e o cantor deles -- Camões, simultaneamente soldado do Império); o fundador, Afonso Henriques; Pombal, o estadista que com as suas grandezas e misérias subsiste enquanto tal no imaginário da nação. Quatro figuras da contemporaneidade: os incontornáveis Salazar e Cunhal, assim votados pelo ímpeto sectário, fenómeno compreensível e explicável. A presença de Pessoa reconforta-nos pelo modo como a sensibilidade colectiva continua, de alguma maneira, a manifestar um pendor lírico, uma necessidade estética. Aristides de Sousa Mendes, o Homem que de tudo abdicou em nome da sua consciência e da Humanidade é a boa surpresa disto tudo. Não votei na primeira volta, não tenciono votar agora; mas se o fizer fá-lo-ei no amor imenso, até ao sacrifício, que Aristides de Sousa Mendes representa.
JornaL. 1) Li apressadamente na livraria duas páginas do último de António Lobo Antunes, D'este viver neste papel aqui descripto -- as cartas enviadas a sua mulher. Soberbas. Não tenho dúvida de que se trata de um grande acontecimento cultural no sentido mais lato: a correspondência dum jovem alferes médico saudoso e apaixonado, atolado numa guerra tão estúpida que foi criminosa -- desde logo pela sua desnecessária estupidez. Um livro para a História. Tenho a certeza disso.