Memories can't wait. Muito novaiorquinos, apesar da escocência do «líder», os Talking Heads estiveram numa linha de rock de vanguarda característica da big apple, já frequentada por gente como os Velvet Underground, e continuando a sê-lo por outra, como Nick Cave. Todo inglês, assombrava-me menos a novidade que eles indubitavelmente representaram -- principalmente com o concurso, na produção, do britânico Eno --, e mais a personagem David Byrne, na altura pelas vocalizações alucinadas que, não sendo dele específicas, lhe calhavam muito bem. Aliás, os Talking Heads eram Byrne, como os Boomtown Rats foram Geldof, os Uriah Heep, Hensley ou os Jethro Tull, Anderson -- bandas de um homem só, com os seus instrumentistas que, nalguns casos, quase que funciona(va)m como assalariados. E por falar em bandas de um homem só, é notável a influência que Byrne e os Talking Heads acabaram por ter em Robert Fripp, dos King Crimson, músico de mão-cheia, com muito mais anos de estúdio e de estrada. Compare-se Fear of Music (1979) e Discipline (1981), por exemplo faixas como «I Zimbra» (onde o próprio Fripp colabora com a sua guitarra) e «Thela Hun Ginjeet»; repare-se na forma quase imitativa do vocalista de ocasião, Adrian Belew. Posto isto, não hesito em apontar Discipline como um álbum um pouco superior a Fear of Music.
Different strings. Quando pensava que o chamado rock progressivo, tão da minha predilecção, já havia dado tudo quanto tinha para dar, por exaustão, por autoplágio ou simplesmente por natural deriva para outras realidades sonoras (v.g. Gabriel, Hammill, Fripp), apareceram-me uns canadianos de Toronto -- aliás, já com meia dúzia de anos de estrada -- e um álbum intitulado sintomaticamente Permanent Waves (1980), como a querer dizer que havia mais rock para lá da new wave (enfim, já ela então também agonizante, ou em mudança). Guitarra potente, baixo criativíssimo com laivos jazzísticos, bateria pronta para tudo, sintetizadores q.b., voz adequada e facilmente identificável. Não me canso de os ouvir, desde essa época.