Bento XVI e a Turquia. A última viagem papal foi um êxito assinalável, não só para o Vaticano como para o mundo islâmico moderado e também para o Estado turco. A visita, que decorreu num tom de grande cordialidade (a irrelevância dos extremistas islamo-nacionalistas (!) foi notória), revelou a possibilidade de um diálogo assente no mútuo respeito e consideração. A Santa Sé conseguiu aligeirar a pressão orquestrada por aqueles que no Islão estão interessados na destruição do Ocidente, da laicidade, das sociedades liberais e das influências destas nos territórios que consideram dever estar sob os seus ditames. Neste particular, o exemplo das autoridades religiosas turcas veio mostrar à chamada «rua muçulmana» (não propriamente a rua turca, antes algumas ruelas árabes) que nem tudo passa obrigatoriamente pelos «morras» ao que lá é percepcionado por Ocidente. O inteligente sinal político que o Papa deu a respeito da adesão da Turquia à UE teve o benefício de atenuar o desastre que é a ausência de uma política de Bruxelas em face dessa adesão que está em cima da mesa, e que não se compadecerá com muito mais manobras dilatórias, sob pena de, perante uma humilhação estúpida, a Turquia voltar as costas à UE, o que seria trágico. Entre os receios alemães (até certo ponto compreensíveis dada a enorme colónia imigrante turca existente no seu território), a abjecção francesa, que tem o caos instalado em casa, e que não quer turcos nem polacos e se pudesse despachava expeditamente os bons dos portugueses no sud-express, e a atitude construtiva de Blair, o gesto de Bento XVI foi de grande agudeza, e com a possibilidade de um mais positivo desenvolvimento futuro desta questão.
Aznar, Bush e Blair... As palavras-de-ordem nas manifestações, da esquerda, pelo menos, são muito prosódicas e devedoras da poesia popular. Foi o que me ocorreu naquela célebre manif contra a guerra no Iraque, que tem andado deveras irritante neste blogue que se pretende pacífico (mas não pacifista). A palavra-de-ordem do momento era: «Aznar, Bush e Blair / esta guerra ninguém quer!»:
Quando eu era jovem, as massas industriaram-me na poesia popular.
SOARES LADRÃO / ROUBA O PÃO
alertavam-me as paredes
com a força das convicções
e dos erros ortográficos.
Por vezes os versos eram brancos
embora vermelhos
por vezes eram brancos.
Assim o muro da recta do Dafundo
SOARES LADRÃO AMDA A ROUBAR O DINHEIRO DO POVO GATUNO VAI PARA A RUA JÁ!
podíamos ler nos idos de 70
e até algum 80.
Ainda hoje a poesia popular me persegue.
Hoje não quero saber das mentiras do Bliar, dos crimes do gang do Bush, nem das provas que o Barroso diz ter visto da existência de armas de destruição maciça no Iraque. Estive na manifestação contra a guerra, e ainda bem que mostrámos o nosso nojo pela repugnante aldrabice. Mas o que se passou hoje só lateralmente tem que ver com a vigarice americana. Há ratazanas a espalhar a peste, indiscriminadamente. O que se faz às ratazanas?