Díptico Iraquiano
1.
SADDAM HUSSEIN EM CONFERÊNCIA ÍNTIMA
Diz as maiores barbaridades diante uma audiência restrita e escolhida.
Native north american child. Buffy Sainte-Marie é uma cantautora índia cree que me conquistou com Soldier Blue. A sua voz tem o timbre da tragédia, o timbre metálico da incredulidade ante o absurdo da destruição -- mas também, quando se esquece, o tom suave da gratidão pela vida, apesar de tudo .
Brahms. Já se deram conta do balanço dos Quartetos com Piano de Brahms?
Bor-rrés. E há aqueles irritantes que pronunciam Ror-rrê Luíce Bor-rrés...
Babylon's burning. Ruts, grupo da segunda vaga punk. Memória do álbum de estreia, The Crack (1979), e da voz insurgente de Malcolm Owen, acabado de morrer. Quem ouviu «Savage circle», compreende a beleza dos motins.
Um reencontro. Inesperadamente vi, aqui na Bulhosa de Cascais, um álbum de Modesto e Pompom, a primeira série da chamada BD franco-belga com que tive contacto, quando in illo tempore, a minha Mãe chegou a casa com um magnífico volume encadernado da revistaTintin -- oferta que deixou em mim uma marca profunda, bem visível muitos anos depois... Esta série, tão discreta quanto importante, criada por André Franquin, continuada por Attanasio, Mittêï (autores, respectivamente, de Spaghetti e de O Incrível Désiré) e vários outros, gira em torno do irascível Modesto, a namorada Pompom, contraponto de bom-senso, de Félix, um vendedor de inutilidades, além de três sobrinhos pestes -- condimentos para diversas peripécias de grande comicidade. Já foi apontado que Franquin começou a ensaiar em Modesto e Pompom os esquemas insanes que depois vamos encontrar em Gaston Lagaffe; mas poderemos também vislumbrar algumas situações que este autor iria explorar nas Ideias Negras, a expressão do seu lado mais sombrio. Em http://bdoubliees.com/, podem encontrar a impressionante lista de argumentistas que colaboraram com estes e outros desenhadores: Peyo (Schtroumpfs), Tibet (Ric Hochet, Chick Bill), Greg (Achille Talon,Bernard Prince, Comanche, etc., etc.), Van Hamme (História sem Heróis, XIII), Godard (Martin Milan), entre vários outros.
A prosa, é do que mais gosto da poesia de Eugénio de Andrade. Quando nasci, já ele era um poeta célebre; quando tomei consciência da obra poética, já ela acusava um excesso de auto-referência -- «sílaba a sílaba», e outros bordões semelhantes; mas a beleza da sua prosa desde logo me conquistou. Nunca mais me esqueci de uma brevíssima passagem de um texto evocativo de Raul Brandão: «Era um poeta -- às palavras estava condenado»... Conheci-o superficialmente: investido, certa vez, de pouco invejáveis funções de representação, fui mostrar-lhe, e ao afilhado Miguel, toda aquela zona fantástica que vai do Guincho à Biscaia, ainda dentro dos limites de Cascais, pouco antes de alcançarmos o Cabo da Roca. Uma vez parado o carro, e calcorreando aqueles ermos ventosos, fiz os possíveis e os impossíveis para que ele não visse uma quantidade inusitada de cachos de bananas a apodrecer, que um javardo qualquer para ali tinha deitado à socapa, sabe-se lá porquê... Fui bem sucedido, felizmente. Daí a dias, recebíamos um testemunho magnífico, que seria publicado numa das revistas cá da terra. O Abencerragem oferece-se um excerto, um pouco mais abaixo, nas «Figuras de estilo».
Fritura de miolos. Era o título da secção de charadas da histórica revista ABC, publicada todas as semanas por Rocha Martins e Carlos Ferrão, nos anos vinte do século passado...
Glásgua. É uma cidade da Escócia.