Como soariam? A Capital! depois de Doze Casamentos Felizes, e ocorre-me: «Como seriam as vozes de Camilo e Eça? Como soariam?» Suponho a de Eça ligeiramente nasalada e aguda, como que a deixar-nos à-vontade -- tavez (passe o cliché naturalista) para melhor nos estudar. Quanto à de Camilo, sinto-a mais áspera e grave, a pôr-nos em guarda -- ela, que ao soltar-se já estaria de sobreaviso...
Spyder in my web. Blues-rock: percebe-se, mas, apesar de tudo, é uma expressão redundante. Sem blues não há rock; estão-lhe nas veias, os blues, mais ou menos diluídos, mas estão. Ao ouvir um dos álbuns ao vivo dos Ten Years After, Undead, revisito o virtuosismo de Alvin Lee, a criatividade e a pujança, os solos de cortar a respiração.
Três visões do terror.
Memories can't wait. Muito novaiorquinos, apesar da escocência do «líder», os Talking Heads estiveram numa linha de rock de vanguarda característica da big apple, já frequentada por gente como os Velvet Underground, e continuando a sê-lo por outra, como Nick Cave. Todo inglês, assombrava-me menos a novidade que eles indubitavelmente representaram -- principalmente com o concurso, na produção, do britânico Eno --, e mais a personagem David Byrne, na altura pelas vocalizações alucinadas que, não sendo dele específicas, lhe calhavam muito bem. Aliás, os Talking Heads eram Byrne, como os Boomtown Rats foram Geldof, os Uriah Heep, Hensley ou os Jethro Tull, Anderson -- bandas de um homem só, com os seus instrumentistas que, nalguns casos, quase que funciona(va)m como assalariados. E por falar em bandas de um homem só, é notável a influência que Byrne e os Talking Heads acabaram por ter em Robert Fripp, dos King Crimson, músico de mão-cheia, com muito mais anos de estúdio e de estrada. Compare-se Fear of Music (1979) e Discipline (1981), por exemplo faixas como «I Zimbra» (onde o próprio Fripp colabora com a sua guitarra) e «Thela Hun Ginjeet»; repare-se na forma quase imitativa do vocalista de ocasião, Adrian Belew. Posto isto, não hesito em apontar Discipline como um álbum um pouco superior a Fear of Music.
Cavaleiros do céu. Dei por eles em miúdo, na televisão, nuns episódios intitulados «Os cavaleiros do céu». Tanguy e Laverdure é uma bd de acção e aventura, desenrolando-se em plena Guerra Fria e salpicada pelos gags do desastradíssimo Laverdure, um trapalhão à altura do capitão Haddock. Com argumento de Jean-Michel Charlier, Uderzo foi o desenhador inicial, mas o sucesso de Astérix obrigou-o a abandonar a série. O pai do pequeno gaulês cedeu então o lugar a Jijé, criador do western Jerry Spring, próximo inspirador da que seria a obra-prima de Charlier: Fort Navajo, narrativa que viria a ganhar o nome do seu protagonista, o Tenente Blueberry. Confusos? Não faz mal. O melhor é ler esta série menor, ou secundária, de dois autores maiores dos quadradinhos.
Condição. Não há deus que resista à iniquidade dos homens.
Grato. Hoje reli a Descida aos Infernos, do Carlos de Oliveira, quinze ou vinte anos depois. Estafado mas gratificado, após esses minutos de leitura e releitura. A tensão da escrita é para muitos autores -- e certamente foi-o para Oliveira -- uma tensão existencial. Benditos os poetas que assim se dão à partilha.
Charlie Brown. Desde sempre, um dos meus heróis.
Almoço. Hoje, no meio de vulgares turistas, almoçava um grupo de rapazes e raparigas de uma dessas instituições sociais. Toscos por fora, lindos por dentro, pareceu-me. As histórias de cada um, só as poderemos conjecturar.
O outro erro. Pensar que a perfeição era concebível pelo Homem, através da ideia dada de Deus, foi o outro erro de Descartes.