Mote. Os espertos, como os detesto.
...ou melhor: Os espertos, como me aborrecem.
Miudezas. Foi-me, por vezes, mais gratificante publicar um magro estudo sobre qualquer escritor obscuro, que um trabalho de maior fôlego consagrado a um consagrado. Houve uma compensação interior de estar a fazer alguma justiça a quem penara tanto como muitos autores canónicos para construir uma obra. E a esperança íntima de no futuro alguém espreitar, de tudo não ter sido em vão.
[Diante duma efígie de Camilo, em papel-moeda] Era porreiro ter na algibeira uma nota de 100 paus.
[Tentame] As palavras são como as mulheres: há que saber pegar nelas da melhor maneira. O que nem sempre sucede.
Flopbuster. Admito que o telefilme dos Beatles não tem pés nem cabeça, e que quarenta anos depois, ou quase, será só mais um testemunho da passagem dos fab-four por este mundo de Cristo. Mas isso é, quanto a mim, duma irrelevância a toda à prova, uma vez que o devaneio foi pretexto para que Lennon - a Morsa e McCartney - o Hipopótamo nos dessem temas como o «Magical Mystery Tour», «The Fool oh the Hill» e «I Am the Walrus», além de duas composições menores: uma de Harrison-o Coelho e outra assinada pelos quatro, Ringo vestindo aqui a pele do Galo. Flop, um filme que deu 3 canções 3 que acrescentaram o património artístico ocidental?... O lado B, já fora do filme, com «Strawberry Fields Forever», é superlativo.
A propósito: e o que seria do filme de Michael Curtiz,Casablanca, sem As Time Goes By?
os dias passam por ele
sem que ele dê pelo passar dos dias por ele
adoece e não sabe que é o fim
abana a cauda e sucumbe
ao tiro no crânio
sem espanto
à injecção letal
em paz
27-I-2003
Nunca morrer sem ouvir e re-ouvir, muitas vezes, o álbum Louis Armstrong Plays W. C. Handy -- qualquer coisa como o pai do jazz a homenagear e tocar o pai dos blues, músicas que nenhum deles propriamente inventou mas que contribuíram decisivamente para fixar e standardizar. Handy foi também uma espécie de etnomusicólogo, recolhendo e anotando uma série de temas que músicos anónimos negros iam tocando itinerantemente pelo sul dos Estados Unidos, à guitarra e ao banjo, e por vezes ao piano, durante o século XIX e princípios do XX. Este disco é uma jóia, e claro que lá estão aquelas que Eric Hobsbawn (também um grande crítico de jazz) considerou como algumas das melhores composições de Handy: «St. Louis Blues», «Memphis Blues», «Yellow Dog Blues» e «Beale Street Blues», datadas de 1912-16. Armstrong (trompete e voz) está soberbo, acompanhado por Velma Middleton (voz), Trummy Young (trombone), Barney Bigard (clarinete), Billy Kyle (piano), Arvell Shaw (contrabaixo) e Barrett Deems (bateria). Nas preciosas notas da contracapa, George Avakian dá-nos este testemunho do «pai dos blues»: «"I never thought I'd hear my blues like this." W. C. Handy said again and again. "Truly wonderful! Truly wonderful! Nobody could have done it but my boy Louis!"»
Boa malha. Graças ao Blog da Utopia vi alguns belos trabalhos gráficos de Iskandar Salim, de promoção ao próximo filme do «Homem de Aço», Superman Returns.
Entre eles a representação desta jovial Supergirl, personagem que nos anos cinquenta o pessoal da DC Comics desencantou para animar o solitário Superboy. E aqui, não sei o que mais admire: se o talento de Iskandar Salim, se o seu portentoso nome.
Na época em que a Supergirl foi criada seria certamente essa a graça do vilão de serviço em qualquer aventura a desenrolar-se para as bandas do Oriente: o cruel e perverso (há que carregar bem nos clichés...) Iskandar Salim, salteador dos desfiladeiros do deserto, o terror das guarnições dos postos avançados do Ocidente em terra de infiéis, e outros enredos de «histórias para rapazes», como então por cá se dizia. Hoje, a pura inverosimilhança comic-book Superman, conjugação do cientismo oitocentista com o genuíno kitsch n-americano do século passado, é-nos trazida por um criador gráfico que tem nome de turcomano, de cavaleiro da estepe.
Amazing...
Debate Alegre-Louçã. De um lado, a assunção de uma vontade, quase de um destino; um pensamento sobre o país, em relação ao qual nos podemos sentir mais ou menos próximos; do outro, slogans, tacticismo, provocação(zinha), dissimulação, demagogia.