Os pais de Spirou. Spirou é um ícone belga, e talvez o maior da BD, logo depois do seu rival Tintin. Mas, ao contrário do jovem repórter, que apenas conheceu a autoria de Hergé -- embora com os traços auxiliares de Jacobs, De Moor, Martin ou Leloup --, no caso do famoso groom a paternidade tem sido largamente partilhada, desde a criação de Rob-Vel, em 1938, com destaque para o grande Franquin (criador de Gaston Lagaffe e do Marsupilami) e também para a interessantíssima dupla Tome & Janry, igualmente autores da série O Pequeno Spirou.
O Musée de la Poste de Paris tem patente, até 7 de Outubro, uma exposição intitulada «Spirou -- Tels pères, tels fils», com muitos espécimes de interesse, destacando-se pranchas originais dos desenhadores.
A propósito, Spirou está neste momento a conhecer um processo criativo praticamente sem paralelo na BD europeia, mesmo considerando o caso Blake & Mortimer: para além das edições da dupla que assegura a continuidade da série, Morvan e Munuera, surgiram mais três albuns (Éditions Dupuis) com assinatura de três autores -- ou duplas -- distintas, convidados a engendrar novos e aventurosos desafios ao amigo de Fantásio, originando a série paralela «Une Aventure de Spirou et Fantasio». São eles: Les Marais du Temps, por Frank Le Gall; Le Tombeau des Champignac, por Tarrin e Yann; e Les Géants Pétrifiés, por Yoann e Vehlmann. Esperemos que a Asa, actual chancela portuguesa, os publique a todos.
http://www.museedelaposte.fr
Um reencontro. Inesperadamente vi, aqui na Bulhosa de Cascais, um álbum de Modesto e Pompom, a primeira série da chamada BD franco-belga com que tive contacto, quando in illo tempore, a minha Mãe chegou a casa com um magnífico volume encadernado da revistaTintin -- oferta que deixou em mim uma marca profunda, bem visível muitos anos depois... Esta série, tão discreta quanto importante, criada por André Franquin, continuada por Attanasio, Mittêï (autores, respectivamente, de Spaghetti e de O Incrível Désiré) e vários outros, gira em torno do irascível Modesto, a namorada Pompom, contraponto de bom-senso, de Félix, um vendedor de inutilidades, além de três sobrinhos pestes -- condimentos para diversas peripécias de grande comicidade. Já foi apontado que Franquin começou a ensaiar em Modesto e Pompom os esquemas insanes que depois vamos encontrar em Gaston Lagaffe; mas poderemos também vislumbrar algumas situações que este autor iria explorar nas Ideias Negras, a expressão do seu lado mais sombrio. Em http://bdoubliees.com/, podem encontrar a impressionante lista de argumentistas que colaboraram com estes e outros desenhadores: Peyo (Schtroumpfs), Tibet (Ric Hochet, Chick Bill), Greg (Achille Talon,Bernard Prince, Comanche, etc., etc.), Van Hamme (História sem Heróis, XIII), Godard (Martin Milan), entre vários outros.