Quarta-feira, 28 de Dezembro de 2016

8.1.2007

Jornais. Sempre tive má impressão do jornalismo, mesmo quando o pratiquei, felizmente por um breve período. Se o nosso jornalismo televisivo é péssimo -- os canais noticiosos (o da sic, em especial) aí estão para o demonstrar em toda a sua pobreza, os jornais não lhes ficam atrás. Mas há dias com boas surpresas. Já aqui escrevi que o melhor suplemento que se publica é o 6.ª, do DN; mas o Público continua a ser o que ainda me vai satisfazendo melhor, enquanto diário de informação geral (não leio semanários há vinte anos; e desde o fim da primeira Grande Reportagem, de boa memória, que perdi o hábito de comprar revistas).

A imprensa é o espelho de uma sociedade; pelas amostras, a nossa deixa muito a desejar.Hoje, porém, leio no jornal 4 excelentes artigos de opinião 4, que me vieram lembrar o que em tempos foi considerado o papel dos jornais enquanto veículos de (in)formação e a sua importância para a sedimentação de uma vida pública menos primária, menos argentária, menos futebolística, menos frívola; pelo contrário: mais sofisticada, mais cívica, mais culta, mais séria.

Como os links estão sujeitos a assinatura, transcrevo aqui breves passagens:

De António Paim: «A ideia da democracia grega sempre exerceu uma influência enorme no imaginário ocidental. Não se trata de abdicar de tal legado mas de considerá-lo no que é típico do regime democrático: o carácter participativo. A doutrina do governo representativo tem o mérito de preservar tal característica, explicitando o que é essencial à convivência social: a negociação dos inevitáveis conflitos.» («O que o governo representativo acrescenta ao legado grego»).

De Laura Ferreira dos Santos: «Quem decide do que eu consigo suportar? O pessoal médico? Quando estou grave e irrecuperavelmente doente, passo a pertencer ao Estado ou a uma ortodoxia religiosa?» («A morte assistida de Welby: questões bioéticas e religiosas»).

De Carlos Pacheco: «Foi com o liberalismo que o esbulho, a desordem e a impunidade na administração colonial atingiu dimensões antes impensáveis. Enquanto no regime absolutista houve capitães-generais e ouvidores que se se mostraram por vezes menos preocupados com o interesse público do que com o desejo de amassar fortuna pessoal, a Metrópole, apesar de tudo, nem sempre condescendeu com estes hábitos.» («Pilhagem das colónias»).

De João Paulo Barbosa de Melo: «O ser humano distingue-se dos restantes mamíferos por não ver apenas com os olhos, por ser capaz também de "ver" através da ciência, da razão, da imaginação, das convicções.» («Tem sentido legalizar hoje o aborto?»).

É por isto, por nos interpelar, por nos ajudar a reflectir e suscitar a discussão, por ser um factor de civilização, que vai valendo a pena continuar a comprar o jornal.
publicado por RAA às 17:33
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Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015

10.7.2006

A premissa essencial. Um interessante artigo de Antônio Paim, publicado no Público de hoje, reflectindo sobre os efeitos perversos do multiculturalismo, nomeadamente o da guetização das comunidades islâmicas nas sociedades ocidentais, veio recordar-me que a tolerância religiosa sendo uma conquista civilizacional conceptualmente adquirida, não deve ser considerada «um valor supremo».

Isto parece-me evidente, pois quando uma prática religiosa atenta contra a dignidade individual ou colectiva deverá ser combatida sem tréguas.

Neste particular, a famigerada burka (sem esquecer o tchador, apesar de tudo menos ignominioso), que cada vez mais se vê por aí, é ultrajante. Andar por algumas capitais europeias, torna-se um exercício penoso, porque sabemos que aquelas mulheres estão fortemente condicionadas -- apesar da tagarelice desavergonhada dos círculos islamitas.

Não há culturas de primeira nem de segunda, sabêmo-lo há muito -- mas há mais tempo que sabemos não haver géneros superiores. Por isso, afigura-se-me que uma das principais acções da cidadania europeia deve ser a de erradicar esta opressão bárbara cometida diante dos nossos olhos e com a nossa passividade. Não posso sentir-me livre se os meus concidadãos -- ou aqueles que não o sendo vivem à minha volta -- o não forem também. É uma premissa essencial. Daí que a erradicação deste ranço religioso -- que, aliás, começa a contagiar o discurso público de algum catolicismo -- seja um desígnio (um combate, apetece escrever) vital para a preservação de coisas tão importantes, como a própria paz social, sob pena de ficarmos, a prazo, reféns do extremismo -- religioso, mas também étnico; islâmico, mas também fascistóide --, com o cortejo da sua consabida bestialidade.

publicado por RAA às 13:27
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