Domingo, 25 de Setembro de 2016
Este ano, um bom ano que nos livrou de alguns indesejáveis, foi incrivelmente mau para a justiça que se lhes devera ter feito. Milosevic morto a meio do processo em Haia, sem que o defunto Tudjman fosse, postumamente embora, responsabilizado pela barbárie balcânica. Houve também o Pinochet, essa fresca enguia. Quanto ao Saddam, compreende-se que os americanos, entre outros..., não estivessem muito interessados em revolver o passado comum.
O julgamento e rápida execução do «Carniceiro de Bagdad», com base em apenas uma das suas muitas atrocidades, embora das mais hediondas, é revelador da prontidão com que os americanos se quiseram ver livres deste empecilho, outrora aliado. Saddam Hussein não foi julgado por todo o seu consulado de terror. E sabemos, infelizmente, que os criminosos que em Washington podiam exibir no cadastro o massacre de milhares de vidas inocentes, não terão o julgamento a que deveriam ser sujeitos, em nome da decência.
Quinta-feira, 23 de Junho de 2016
Foi bem feito. A ministra da Defesa do Chile foi vaiada nas exéquias de Pinochet. Tratando-se de um criminoso que usurpou a chefia do Estado chileno durante 17 anos, não sei porque razão um governo democraticamente eleito se rebaixou enviando um representante àquele acto. Eu sei que a democracia por si só tem uma superioridade ética e moral relativamente às ditaduras. Mas há gente que não merece sequer um gesto de indulgência.
Sábado, 11 de Junho de 2016
Na morte de Pimochet, um Mobutu sul-americano. É triste ver morrer um traidor sem julgamento. Nomeado por Salvador Allende comandante do exército chileno, enganou-o de tal maneira que quando o Presidente estava sitiado em La Moneda perguntava com ansiedade pelo estado do seu general durante a insurreição que corria: «Coitado do Pinochet», lamentava Allende...
É triste ver morrer um facínora sem julgamento. Não são apenas os três mil mortos e desaparecidos que vão atormentar o esbirro no inferno. É a perfídia, a tortura, os requintes de malvadez dos torturadores, cuja responsabilidade política ele há dias assumiu, sabendo-se impune e livre de recorrer ao abjecto número de circo da cadeira de rodas.
Há quem diga que ele salvou o Chile do comunismo. Mesmo que essa deriva se viesse a confirmar -- o que ficou por demonstrar (e recorde-se que Allende pertencia ao Partido Socialista chileno) --, mesmo que aceitássemos a hipótese, o Chile foi em seguida condenado ao Pinochet. E não são os alegados bons resultados da economia (tão louvados por uns pseudo-liberais imbecis) que redimem a personagem. Para a História, Pinochet ficará como um mero peão da Guerra Fria, um Mobutu latino-americano, igualmente ladrão e carrasco. O Chile não ficou como o Zaire/Congo, podem argumentar; mas a história das instituições nos dois países não é comparável.
Na morte de um assassino e de um traidor, presto homenagem à sua mais conhecida vítima, que não recorreu a números de circo para salvar o pêlo: Salvador Allende.
Sábado, 19 de Setembro de 2015
JornaL. 1) Cá se fazem, cá se vão pagando. Pinochet, o traidor de Salvador Allende, vai sendo incomodado pelos tribunais. Coitadinho. Já que, por uma questão de civilidade democrática, está guardado de sofrer as penas que infligiu a outros, ao menos que vá tendo uma velhice amargurada.
2) Manuel Alegre ao Público: «Se não aceitar ditaduras nem regimes totalitários, se lutar pela liberdade, se ter uma lógica independente e livre é ser romântico, então eu sou romântico.»