«Grandes portugueses». [D. Afonso Henriques]. Se eu fosse um 'historicista', votaria nele.
Os Grandes Portugueses. E não é que, apesar de tudo, o público foi mais avisado do que os organizadores deste concurso? Quatro figuras ligadas aos Descobrimentos (dois mentores -- Infante e D. João II --, um agente -- Vasco da Gama -- e o cantor deles -- Camões, simultaneamente soldado do Império); o fundador, Afonso Henriques; Pombal, o estadista que com as suas grandezas e misérias subsiste enquanto tal no imaginário da nação. Quatro figuras da contemporaneidade: os incontornáveis Salazar e Cunhal, assim votados pelo ímpeto sectário, fenómeno compreensível e explicável. A presença de Pessoa reconforta-nos pelo modo como a sensibilidade colectiva continua, de alguma maneira, a manifestar um pendor lírico, uma necessidade estética. Aristides de Sousa Mendes, o Homem que de tudo abdicou em nome da sua consciência e da Humanidade é a boa surpresa disto tudo. Não votei na primeira volta, não tenciono votar agora; mas se o fizer fá-lo-ei no amor imenso, até ao sacrifício, que Aristides de Sousa Mendes representa.
Altíssima Idade Média. Depois do interessante projecto de investigação antropológica dos restos mortais de D. Afonso Henriques (sem contar com o anedotário burocrático...), leio que uma equipa de arqueólogos da Universidade do Minho pôs a descoberto a basílica de S. Martinho de Dume, «o apóstolo dos suevos» (século VI), um dos autores fundamentais do cristianismo peninsular, cujos escritos são, em alguns casos, uma preciosa fonte para o conhecimento dos povos daquela região do noroeste.
Em Portugal há grandes arqueólogos, como Cláudio Torres, Luís Raposo, há os que sujam as mãos no terreno, batem-no ao longo dos anos, conhecem cada acidente, cada afloração, como sucede com Guilherme Cardoso, autor da Carta Arqueológica do Concelho de Cascais, entre outros; e depois existe uma cáfila que se ocupa de ninharias, de porcarias, repartida por grupos de intriguistas à cata de subsídios, e que gastam as energias torpedeando-se uns aos outros.
Se isto é sinal de que estamos a dar o salto para um outro patamar de investigação, excelente.
Dona Janis Joplin. Segundo o sítio de genealogia Genea Portugal, Janis Joplin terá sido descendente de D. Afonso Henriques... Perante isto, não sei o que dizer; mas cabendo-me um quinhão de parentesco com o fundador da nacionalidade, como queria o historiador e genealogista D. Luís Gonzaga de Lancastre e Távora, marquês de Abrantes -- segundo o qual, praticamente todos os portugueses são descendentes do Conquistador --, só me resta impar de contentamento, pelos laços que nos ligam a uma das melhores e mais lindas coisas que os Estados Unidos deram ao mundo!...